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Terça, 22 de Outubro de 2024
Ola Mundo!


Prioridade de prefeitos e vereadores deve ser a segurança das crianças no trânsito, não a circulação de veículos particulares

Crianças atravessando a rua

Caminhando, Ana Carolina, 10 anos, e João Marcos, 9 anos, chegariam em até 20 minutos de sua casa até a escola onde estudam. De bicicleta, talvez em 10 minutos. O que ocorre é que a família se reveza diariamente na tarefa de transportá-los de carro até o portão do local onde estudam: pela manhã as crianças vão de carro com o pai e retornam com a mãe ao final das aulas. Levam cerca de 30 minutos para ir, mais 15 minutos aguardando numa fila de carros imensa até chegar ao portão para poder deixar ou pegar os dois. Ao sair, a mesma história. Por dia, 1 hora e 30 minutos na fila. O tempo para uso pessoal é um dos bens mais preciosos que um ser humano pode disponibilizar para melhorar sua qualidade de vida. Por melhor que seja o carrão e todas as tecnologias nele embutidas que o transformam numa espécie de “car office” ou “car home”, certamente não minimiza o mau humor e o desgaste pois o tempo no trânsito é o que mata a saúde mental de qualquer ser humano: mesmo com todas as “amenidades embutidas” (geladeirinha, ar-condicionado, TV a bordo, som e afins) o tempo desperdiçado continuará o mesmo. Não adianta. Repensar nosso estilo de vida é necessário, mas cobrar soluções e respostas rápidas das autoridades públicas a respeito da segurança viária para nossas crianças e jovens é crucial para evitar lesões e mortes no trânsito. Alguém já se perguntou por qual razão o velocímetro de um carro motorizado ultrapassa as velocidades permitidas pelo Código Brasileiro de Trânsito? Cidades já definiram as velocidades permitidas em vias urbanas e certamente nenhuma delas chega ao número que você lê no painel – 180, 200, 220… Marketing? Nunca entendi. 

Velocidades altas no meio de bairros residenciais e avenidas que atravessam cidades são os locais em que ocorrem sinistros (mortes e lesões) envolvendo pessoas e veículos motorizados. Para evitar o alto número de mortes no trânsito e as sequelas que ocorrem nos atropelamentos surgiu, ainda no final do século passado, na Suécia, o conceito de Visão Zero, que tornou-se um movimento mundial para prevenir mortes e ferimentos nas ruas a partir da adoção de um sistema de ações para a segurança viária. A cada ano, mais de 100 mil mortes causadas por sinistros de trânsito na América Latina poderiam ser evitadas. Muitos deles envolvem pessoas vulneráveis como idosos, crianças e adolescentes. Campanhas de educação no trânsito, multas e capacitação de motoristas foram (ainda são) ações importantes que dominaram o paradigma que norteou as políticas de segurança viária por décadas, mas hoje são incapazes de enfrentar uma quantidade cada vez maior de veículos motorizados maiores e mais potentes em ruas urbanas. E tanto faz se são movidos a energia elétrica, gás ou gasolina. São veículos motorizados que podem causar mortes. Para comportar os novos veículos e garantir a fluidez no trânsito, há a necessidade de construir de forma infinita um sistema viário mais robusto para atender as novas demandas que não cabem nas ruas já existentes. Isso tudo para evitar congestionamentos de carros. Definitivamente, precisamos reiterar nossas cobranças de forma persistente, sistemática, aos prefeitos e vereadores para que repensem a prioridade destinada à circulação de veículos motorizados particulares e parem de construir mais e mais ruas, avenidas, pontes, túneis, viadutos nas cidades destruindo praças, reduzindo parques e acabando com as calçadas com o objetivo de melhorar a fluidez daqueles que representam apenas um terço da população, ao menos aqui em São Paulo. Cidades precisam ser repensadas para o uso prioritário das pessoas e de seu bem-estar.

Prefeitos que buscam incluir ações que levam a sério a segurança de crianças e demais grupos vulneráveis vêm redesenhando as cidades para atender cerca de 33% dos cidadãos que realizam percursos a pé para locomover-se de um canto a outro. Para ilustrar os danos dos limites de velocidade adotados por milhares de cidades brasileiras, a chance de um pedestre morrer em um atropelamento está diretamente relacionada ao limite sinalizado nas ruas. Observe as placas de sinalização dos limites permitidos nas ruas próximas e em frente às escolas: se a placa indicar 30 quilômetros por hora, a possibilidade de morte de um adolescente distraído com seu celular na mão atravessando a rua chega a 10%. Conforme aumenta a velocidade, aumenta o risco. Em 40 quilômetros por hora, o risco de morte de uma criança fica entre 30% e 40%, mas, a 50 quilômetros por hora, a morte é praticamente certa: passa dos 80%. Com estes números, deixar uma criança ir sozinha até a escola é um pensamento perturbador.

No Brasil, embora as candidaturas de inúmeros prefeitos nas últimas eleições ostentassem a bandeira da sustentabilidade urbana com ênfase na questões de incentivo à redução da mobilidade motorizada e à inclusão dos modos ativos nos planos de mobilidade urbana, as ações resultantes dos discursos daqueles que foram eleitos mostraram avanços tímidos graças aos reduzidos orçamentos destinados à implantação das necessárias mudanças para a constituição de bairros calmos, evidenciando a falta de vontade política para acelerar as ações propostas em campanhas. Enquanto isso, as mortes no trânsito, apesar da redução, continuam acontecendo. Órgãos públicos contabilizam redução de mortos. Mortos. Temos pressa, senhores prefeitos. Nenhuma morte no trânsito é aceitável. Bairros com trânsito calmo que buscam evitar mortes causadas por sinistros muitas vezes previsíveis (caso da velocidade em áreas densamente ocupadas por crianças e demais grupos vulneráveis como escolas) já ocorrem em cidades brasileiras como em São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Curitiba e Rio de Janeiro, entre outras. Não no tempo necessário, infelizmente. 

Alguns bairros das cidades citadas sofreram alterações que demandam muito mais vontade e liderança política de prefeitos e vereadores do que de recursos financeiros: implantação de travessias elevadas, lombadas e rotatórias. Melhoria das condições de travessias de pedestres com a revisão dos tempos semafóricos (mais tempo “verde” para a travessia de crianças e jovens. Correr maratonas para atravessar uma rua não pode fazer parte do cotidiano de quem anda a pé, isso está errado!), reposicionamento das faixas (você já percebeu que elas nem sempre estão no lugar onde as pessoas realmente atravessam?), melhoria da sinalização (você consegue encontrar e ler as placas de sinalização?), readequação das calçadas nas travessias (sabe aquela esquina que você tenta atravessar e não consegue com medo de ser atropelado pelo carro que vai realizar uma conversão?), iluminação (poste de luz para automóveis e outro direcionado para pedestres precisam ser implantados nos locais corretos para sinalização. Às vezes tenho a impressão de que os postes são colocados aleatoriamente apenas para atestar a sua existência) e, por fim, a regulamentação da velocidade de 30 km/h em todos os bairros onde houver escolas. As ações implantadas atualmente resumem-se a alguns locais em que o número de pessoas mortas e com sequelas em sinistros causados por veículos apresentava números altos. Compreendo que talvez seja melhor do que nenhuma ação, mas, ainda assim, como pedestre, não aceito.

Ano passado, o parlamento holandês aprovou a redução da velocidade urbana de 50km/h para 30 km/h, reduzindo drasticamente as mortes e as lesões com sequelas em pedestres. Desde agosto, a cidade de Paris (prefeita Anne Hidalgo) limitou a velocidade de cerca de 60% da malha viária para 30 km/h visando melhorar a segurança viária, reduzir a poluição sonora e cumprir as metas do acordo climático. E nós, como estamos? Diferentemente dos países citados cujos prefeitos assumiram o compromisso de zerar as mortes e lesões no trânsito liderando a implantação dos programas, destinando recursos e cobrando prazos dos departamentos responsáveis pelas ações provenientes dos programas Visão Zero e Segurança Viária em suas cidades, aqui prefeitos e seus indicados políticos pedem paciência, reclamam da falta de recursos financeiros e procrastinam planos e ações que salvam as vidas daqueles que são vulneráveis: nossas crianças e jovens.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Você considera as ruas de sua cidade seguras para que uma criança possa caminhar sozinha até a escola?

Saiba mais na coluna de @helenadegreashttps://t.co/ETx61BlIK4

— Jovem Pan News (@JovemPanNews) November 16, 2021

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.


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