Em conversa com parlamentares durante audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 1º, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou sobre o cenário econômico do Brasil e sobre as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2021 com a queda de 0,1% registrada no segundo trimestre do ano. “Hoje saiu o número do PIB, que veio um pouco mais fraco do que o mercado esperava, a gente provavelmente deve ter uma revisão um pouquinho para baixo no ano corrente”, estimou. Ele comentou os dados sobre desemprego divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta semana mostrando leve diminuição da ocupação desocupada para citar a recuperação do PIB em “V”, que mostra um retorno em velocidade similar ao da queda. “De novo, a projeção do PIB de 2021 estava em 5,22% e com o número de hoje a gente acha que pode ser um pouco revisado para baixo, vamos observar”, disse, sem detalhar qualquer número.
Campos Neto manteve, porém, um tom otimista citando que o Brasil teve em 2020 uma queda do Produto Interno Bruto menor em comparação a outros países emergentes e citando que todo o mundo teve um aumento de dívidas durante a pandemia por causa de medidas de enfrentamento contra a Covid-19, com raras exceções. “Quando a gente olha o padrão histórico de dívida bruta no mundo, a gente vê uma dívida gigantesca no mundo, maior do que a dívida no pós-Segunda Guerra Mundial. A gente vê também uma dívida de emergentes muito alta, maior do que o período onde os emergentes se endividaram muito, antes da crise de 2008”, disse. O presidente do BC citou que as dívidas foram contratadas com taxas baixas e diante do ajustamento dessas taxas países emergentes podem ter um “efeito de correção”. “Aqui acho que a mensagem principal é que mesmo com a pandemia nós não paramos nenhum projeto. Estamos perto de entregar grande parte dos projetos que foram desenhados no começo. A gente segue com a inclusão de novos projetos, estamos em um processo agora de desenhar uma nova fase da agenda”, pontuou, citando o “Pix” como um esquema de inovação bem sucedido no último ano.
Este é o primeiro resultado negativo do PIB na comparação com o trimestre imediatamente anterior após três avanços seguidos e a segunda alta em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Com esse desempenho, a economia brasileira cresceu 6,4% no primeiro semestre. O setor de serviços — o mais impactado pelas medidas de isolamento social, registrou alta de 0,7%. O agronegócio recuou 2,8% na comparação com o trimestre anterior, enquanto a atividade da indústria teve queda de 0,2%. A atividade industrial recuou devido às quedas de 2,2% nas indústrias de transformação e de 0,9% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos. Essas retrações compensaram a alta de 5,3% nas indústrias extrativas e de 2,7% na construção. Nos serviços, os resultados positivos vieram de quase todas as atividades: informação e comunicação (5,6%), outras atividades de serviços (2,1%), comércio (0,5%), atividades imobiliárias (0,4%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,3%) e transporte, armazenagem e correio (0,1%). Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,0%) ficou estável.