Com o avanço da pandemia no Brasil e uma taxa de transmissão em que 100 pessoas infectam outras 123, de acordo com o Imperial College, aumentou também a procura por máscaras de proteção mais eficientes contra a Covid-19. Já comuns, as máscaras de pano precisam preencher alguns critérios para serem realmente eficazes — e, ainda assim, não oferecem a proteção de um Equipamento de Proteção Individual (EPI). Nas últimas semanas, as máscaras PFF2/N95 tomaram as redes sociais através de perfis como o @qualmascara, administrado pela antropóloga, mestra e doutoranda em Saúde Coletiva (IMS/UERJ), Beatriz Klimeck. A página tem como objetivo espalhar informação sobre a prevenção do coronavírus de forma didática e acessível. Outros perfis, como o @PFFparaTodos e o @estoque_pff compartilham promoções e a disponibilidade do equipamento em lojas físicas e online. A Jovem Pan conversou com a Beatriz e listou as principais dúvidas sobre o equipamento.
O respirador PFF2/N95, também conhecido como “bico de pato”, é considerado um Equipamento de Proteção Individual (EPI) e é encontrado para vender em lojas de material de construção — e não em farmácias. Entre as opções de máscaras, essa é considerada uma das mais seguras por garantir uma maior vedação do rosto e não permitir a passagem do ar pelas laterais — garantindo que os aerossóis da Covid-19 não passem pelo TNT filtrante.
“Os filtros são capazes de evitar a inalação de poeiras, gases, fumaças e substâncias, constituídos por um emaranhado de microfibras sintéticas em camadas e com tratamento eletrostático para reter partículas. A PFF2 têm por volta de 94/95% de eficiência na filtragem”, explica Beatriz. Os dois modelos, N95 e PFF2, são iguais e oferecem a mesma proteção — a nomenclatura pode variar de acordo com a região, sendo N95 nos Estados Unidos e PFF2 em outras regiões, como no Brasil.
A máscara KN95 é chinesa, semelhante ao respirador PFF2, mas não tem regulamentação no Brasil. A principal diferença entre elas é o elástico: enquanto a PFF2 oferece um elástico inteiriço e que prende atrás da cabeça, a KN95 possui o elástico preso atrás das orelhas. Isso, a depender do usuário, pode não garantir a melhor vedação do rosto. A falta de regulamentação também abre espaço para modelos falsificados, já que não possui o selo do INMETRO e são importadas. A Anvisa publicou uma lista de empresas fabricantes que mostraram falha na eficácia que pode ser consultada aqui.
Não, mas existem as máscaras que melhor se adaptam a cada tipo de rosto. Entre as variações estão, principalmente, o tamanho do respirador e o tipo de clips para vedação no nariz. Algumas máscaras, como a 3M, oferecem uma proteção de espuma para não marcar a região. Em outras, como a da AirSafety, o ajuste é externo e fica aparente. É importante, também, que a máscara não tenha válvula.
Independente da marca, existem alguns pontos importantes para se observar na hora da compra: selo do INMETRO, conforme símbolo oficial do instituto; número do C.A., que pode ser consultado no site; e o selo do Organismo de Certificação de Produto (OCP). Apesar de proteger contra vírus e agentes biológicos, desconfie das embalagens que tragam essa informação. A grande maioria traz, apenas, a notificação para poeiras, névoas e fumos. Além disso, não existe PFF2 infantil justamente por ser um equipamento de trabalho. Para os pequenos, o ideal é usar uma máscara de pano em conjunto com uma cirúrgica ajustadas para melhor vedação.
As máscaras PFF2 são individuais e podem ser reutilizadas desde que não sejam molhadas ou tenham contato com álcool. Em geral, o contato com a chuva ou suor não causa danos. Na dúvida, o ideal é fazer o teste de vedação. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, nos EUA), o respirador pode ser reutilizado cinco vezes se for retirado e armazenado de forma segura. “Apesar da embalagem afirmar que são descartáveis, já sabemos que é possível fazer um reuso seguro. O método mais recomendado é deixar ‘descansando’ por entre três e sete dias para inativar possíveis vírus na superfície. Por isso, recomendamos a ‘semaninha’: pendurar em ganchos ou guardar em envelopes de papel, numerados, e alternar o uso entre elas”, completa a antropóloga.
O ideal é deixar a máscara descansando em lugar arejado, longe do sol, por no mínimo três dias. Tanto a água quanto o álcool prejudicam o TBT e o tornam menos eficiente. Se o EPI apresentar rasgos, manchas ou furos, ele deve ser descartado. A recomendação é a mesma em caso de interação com pessoas infectadas. As máscaras PFF2 possuem uma camada eletroestática que atrai as partículas e impedem que você respira o vírus. Qualquer produto de limpeza é capaz de danificar a proteção.
Depende da marca, mas é importante ficar atento aos preços abusivos. Pela internet, é possível encontrar PFF2 entre R$ 2 e R$ 10 a unidade. Alguns locais, no entanto, oferecem por preços muito maiores — passando de R$ 30 a unidade. O site PFF para Todos oferece uma planilha atualizada diariamente com sugestões de lojas online e em todo o país que vendem o equipamento por um preço justo.
Não. Isso porque a vedação e a qualidade do filtro é muito mais importante do que a quantidade de camadas de proteção. Um estudo divulgado pelo CDC mostrou que duas máscaras muito bem ajustadas ao rosto, com vedação, podem diminuir em até 95% a exposição a partículas de um tamanho específico. Mas, combinadas, as PFF2 ainda são mais efetivas. Os aerossóis são partículas com diâmetro ainda menor e que podem facilmente driblar a barreira de tecidos comuns — principalmente quando se trata das variantes mais transmissíveis. “Se não for possível usar a PFF2, recomendamos o uso de uma máscara cirúrgica perto do rosto e uma máscara de tecido por cima”, acrescenta Beatriz.
As máscaras de pano ainda oferecem uma proteção maior do que não usar nenhuma máscara. Por isso, na falta de uma PFF2, o uso da proteção de pano ainda é recomendado. Porém, o ideal é que ela esteja aliada a uma máscara cirúrgica. Ambas precisam estar bem ajustadas na orelha, com nós, e dobras específicas. Deve-se fugir de tecidos elásticos e costuras (principalmente frontais), e preferir tecidos com tripla camada (poliéster, polipropileno e algodão) e elástico que passa ao redor da cabeça. “Você pode adaptar um arame de pão colado na parte do nariz para moldar melhor a máscara ao rosto”, pontua.
A face shield, se usada em conjunto com uma máscara, pode ser efetiva para conter as gotículas do vírus — mas não os aerossóis. Sozinha, ela não tem muita eficácia porque deixa tanto boca quanto nariz livres, permitindo a passagem do ar e também dos vírus. O mesmo vale para a máscara de acrílico. Já as máscaras de tricô representam alguns riscos: por conta das tramas abertas, além de não oferecer vedação suficiente, pode transformar as gotículas e aerossóis. Já o tecido antiviral pode prometer mais do que cumpre: inativar o vírus não significa, necessariamente, boa filtragem e boa vedação.