O presidente Jair Bolsonaro surpreendeu seus adversários, inimigos e apoiadores ao reassumir o protagonismo do diálogo com os demais poderes, principalmente com a cúpula do Judiciário. Na prática, Bolsonaro nem recuou, nem arregou, mas apenas agiu com sabedoria, equilíbrio e pragmatismo – o mínimo que se espera de um Chefe de Estado e de Governo. A oposição já apelou para adjetivos pejorativos, como “frouxonaro”. O governador de São Paulo, João Doria, tuitou: “O leão virou um rato”. O deputado Rodrigo Maia, agora secretário do governo paulista, comentou que a nota de Bolsonaro foi uma humilhação, chamando-o de “frouxo e covarde”. Alguns “bolsonaristas” mais afoitos acharam que Bolsonaro “traiu” milhões de pessoas que foram às ruas em 7 de setembro. Mas a verdade ululante é que o Presidente da República cedeu para conquistar, colocando o interesse do país acima de vaidades, caprichos, conflitos e preferências pessoais. Tudo indica que Bolsonaro agiu como “Estadista”, não como pugilista.
Depois de discursos pesados no 7 de setembro, principalmente alvejando dois ministros do Supremo Tribunal Federal (Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso), Jair Bolsonaro surpreendeu o mundo político e o mercado financeiro com sua nota pública, em tom conciliador, para apaziguar ânimos. Bolsonaro afirmou que nunca teve “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes”. Bolsonaro só faltou pedir desculpas pelos ataques anteriores: “Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorrem do calor do momento e dos embates que sempre visaram (sic) o bem comum”. (Releve-se até o pequeno erro de português, que passou despercebido até do ex-presidente Michel Temer, que ajudou a escrever a nota, já que o verbo visar é transitivo indireto: o certo seria “visaram ao bem comum).
Bolsonaro “cedeu para conquistar” (um provérbio de guerra japonês da idade média). Mas, depois da nota, na habitual live de quinta-feira à noite nas redes sociais, o presidente voltou a manifestar suas críticas ao Tribunal Superior Eleitoral e seu presidente Luís Roberto Barroso em relação à rejeição do voto impresso pelas urnas eletrônicas para recontagem pública de 100%, na própria seção eleitoral. Por maioria, o STF reafirmou a inconstitucionalidade da lei do voto impresso. Curioso foi o argumento do relator Gilmar Mendes, acompanhado pela maioria dos ministros: “A impressora poderia ser uma via para hackear a urna, alterando os resultados da votação eletrônica e criando rastros de papel que, supostamente, os confirmassem”. Traduzindo: o sistema é frágil e ponto final. Detalhe relevante: a eleição 2022 será comandada por Moraes, que presidirá o Tribunal Superior Eleitoral.
As manifestações de rua no 7 de setembro foram impressionantes, sob todos os aspectos. Uma parcela expressiva da população, notadamente famílias de classe média, trocaram o descanso do feriado por uma incansável vontade de mostrar, publicamente, que deseja reformas e mudanças de verdade. Uns eram mais radicais, muitos mais equilibrados, porém todos agiram pacificamente. Bolsonaro fez dois discursos contundentes. Em Brasília, anunciou que convocaria o “Conselho da República” – o que assustou o establishment. Em São Paulo, xingou Alexandre de Moraes de “canalha” e advertiu que não cumpriria ordens judiciais inconstitucionais. Ontem, depois do almoço-reunião com Michel Temer e a divulgação da nota (com todo estilo literário, jurídico e político do marido da bela Marcela), Bolsonaro apostou na “conciliação”. Agora, o foco é aprovar a agenda de reformas. Cabe ao Supremo e ao Congresso Nacional colaborarem. O presidente tem força e confiança da população – comprovada nas ruas.
No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer: