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Sabádo, 19 de Outubro de 2024
Ola Mundo!


Veja como lidar com a ansiedade

É possível lidar com esse sentimento quando as adversidades chegarem É possível lidar com esse sentimento quando as adversidades chegarem Imagem: Shutterstock

“Mãe, respira. Puxa o ar pelo nariz, segura um pouco, agora solta. De-va-gar”. Minha mãe não percebe quando está entrando em uma crise de ansiedade. A respiração dela simplesmente acelera, começa a ficar irritada, sem alternativa para a questão. Quando estou por perto, toco em seus ombros e procuro trazer seu fôlego de volta, reconectando-a com um ritmo mais tranquilo de inspiração e expiração.

Citei minha mãe, mas a frase poderia começar com “caro você, respire”, pois há um contingente expressivo de pessoas que sofrem do mesmo mal. O último levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) contou 264 milhões de pessoas afetadas pelo transtorno no planeta. Quanto ao Brasil? Estamos no topo do ranking: 9,3% da nossa população vive com o distúrbio; três vezes mais que a média global, de 3,5%.

Medos e incertezas aumentaram o quadro de ansiedade

A pandemia do novo coronavírus turbinou o cenário e elevou em 25% os casos de ansiedade e depressão. Frente a uma doença súbita com risco imediato sobre a vida, era de se esperar que as pessoas sentissem medo. Só que não parou aí. Uma guerra começou na Ucrânia, e o noticiário nos bombardeia diariamente com dados sobre a fome, a corrupção, a inflação.

Não fosse apenas o inóspito ambiente externo, as questões pessoais – vou sobreviver a tanta incerteza? – e a ilusão de que há uma felicidade permitida apenas para poucos felizardos, martelada pelas redes sociais, criam a tempestade perfeita para um ser ansioso.

Os agravantes do nosso país

O Brasil tem outros agravantes. Aqui prevalece uma insegurança social, política e econômica brutal. Viver nessa latitude-longitude, em tempos de pandemia, é um desafio e tanto à sanidade. Sem meias-palavras, o Estado deveria oferecer medidas de proteção à pessoa.

“Quando falta o amparo, a criminalidade tende a crescer, a violência se espalha, e as pessoas ficam inimigas entre si. O próximo não é mais próximo. Ele é uma ameaça, e o medo transborda”, detalha a psicóloga e psicanalista Patricia Bader, gestora do núcleo Pró-Creare e coordenadora de psicologia da Rede D’Or São Paulo.

O que pode causar a ansiedade?

De causa indefinida – fatores hereditários, ambientais e uma química no cérebro podem contribuir –, mas com muitos gatilhos. É o que se sabe sobre essa escalada de antecipações mentais que beira um sequestro emocional.

A notícia de um almoço inesperado para a família e a mera mudança na rotina podem assaltar a paz de alguns – como minha mãe. A falta de dinheiro em casa, a desmotivação no trabalho, a quantidade de informações divulgadas por hora nas mídias digitais e a desigualdade certamente roubam a serenidade de outros.

O ponto em comum entre todos os preocupados crônicos é sentir-se ameaçado e hiper-reagir ao risco. “A pessoa fica à mercê de uma preocupação excessiva e constante de que algo ruim vai acontecer e é incapaz de relaxar”, esclarece o biólogo Ricardo Monezi, especialista em medicina do comportamento da Universidade Federal de São Paulo. Essa é a armadilha do modo ansioso: você entra e não consegue sair. Toda ansiedade deve ser castigada, então? De forma alguma. Ela faz parte da natureza humana. E vem no nosso kit de sobrevivência há centenas de milhares de anos.

Uma dose, ok. Em exagero, não

Pense em uma espécie de aparelhamento interno que nos prepara para lidar com as ameaças da vida. A ansiedade aguça os sentidos e permite agir rápido quando um problema se apresenta. Na verdade, a tarefa dessa “vigilância” é detectar perigos potenciais antes que eles aconteçam e apontar soluções preventivas.

“Do ponto de vista biológico, nada melhor. A ansiedade põe uma pressão positiva em nosso sistema de defesa e ele fica mais ajustado”, explica Monezi. Acontece o seguinte: a ansiedade entra pelos órgãos do sentido (algo que você vê, ouve, toca, intui…) e é processada no córtex pré-frontal, região mais evoluída do cérebro. Ali, a informação começa ser decodificada. Com base no histórico da pessoa, o cérebro analisa o estímulo e coloca um rótulo – “é ou não fonte de grande preocupação”. Se for algo de alta ansiedade para aquele indivíduo, imediatamente outras estruturas neurológicas entram em ação liberando três hormônios: adrenalina, noradrenalina e cortisol.

1. Adrenalina

“A adrenalina aumenta os batimentos cardíacos e, consequentemente, a frequência respiratória (lembre-se que a ideia é lutar ou fugir). Por isso, a respiração encurta”, explica o biólogo. Ao mesmo tempo, aumenta o fluxo de sangue para os músculos e para o cérebro, alimentando todas as estruturas envolvidas no pensamento (afinal, precisamos encontrar uma solução para o problema que se apresenta, certo?).

2. Noradrenalina

No fígado, o metabolismo se inverte, e todo açúcar previamente armazenado para uma hora de necessidade é liberado. Precisamos de mais energia. “A noradrenalina vem dar um reforço a esses efeitos”, continua Monezi, “adicionando um ingrediente apimentado: a agressividade. Se o organismo tiver de partir para a luta, é agora. Por isso, há pessoas que explodem de raiva diante de uma ameaça”.

3. Cortisol

Por último, o cortisol, o terceiro da cascata hormonal, aumenta a pressão. Faz de tudo para a pessoa ficar em alerta, hiperestimulando todos os sentidos (o barulho de uma agulha caindo no chão pode causar um grande desconforto!) e bloqueando áreas cerebrais que regulam o sono. Entendeu a insônia?

Mecanismo vital

No início da evolução humana, todo esse aparato avisava que era hora de lutar ou fugir porque um predador estava chegando. Sem ele, teríamos sido comidos pelos leões. Hoje, as mesmas reações fisiológicas são acionadas, mas para lidar com as adversidades (boas e más) do século 21: uma entrevista de trabalho, um problema financeiro, uma viagem para lugar desconhecido, um novo encontro. Tudo isso exige que a gente saia da zona de conforto para desenvolver uma estratégia de superação.

Até aqui, mais do que desejável, um mecanismo vital. Ainda que às custas de noites de sono. O anormal é a ansiedade que se agiganta tornando difícil qualquer resposta produtiva. Em vez de nos mover para um next level, como seria de se esperar, a descarga hormonal em excesso paralisa.


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