Existe uma espécie de consenso em relação a algumas características da natureza humana que nos conduzem a uma espécie de dança inconsciente, uma coreografia sutil e sedutora, que é a tendência irresistível de julgar o próximo.
Um olhar de relance, um jeito torto, um comentário mordaz disfarçado de observação inocente. Outras vezes, é um suspiro velado, como se nossa aprovação ou desaprovação fosse fundamental para a estabilidade do Universo. Mas por que é tão difícil resistir a essa dança de julgamento?
Talvez seja uma necessidade inata de nos sentirmos superiores, uma tentativa desajeitada de validar nossas próprias escolhas e existência. Enquanto nos encontramos presos em um turbilhão de decisões diárias, desde a escolha do café da manhã até as complexidades da vida profissional e pessoal, julgar os outros parece ser uma maneira infantil de afirmar que não estamos no caminho certo.
No entanto, essa dança é traiçoeira, pois se disfarça de inocência. Julgamos sem ponderar sobre as histórias que não conhecemos. Esquecemos que cada pessoa carrega um fardo invisível, uma coleção de experiências e cicatrizes que moldam suas escolhas e trajetória.
No meio dessa dança, perdemos a oportunidade de empatia, de nos conectar verdadeiramente com a complexidade humana. Cada olhar de desaprovação é uma barreira que construímos, uma ponte que queimamos. Julgar torna-se um escudo que nos protege da vulnerabilidade de sensibilidade, da constatação de que, na verdade, não sabemos nem controlamos tudo.