Sabemos que a pandemia tem afetado praticamente todas as instituições e pessoas. Na educação, o impacto é enorme. Desde a implantação da educação remota e híbrida, passando por novas formas de comunicação e relacionamento com as famílias, a emergência sanitária que vivemos atingiu diretamente os modos e abordagens da gestão educacional. Muitas instituições que até pouco tempo tinham uma gestão amadora, pouco profissional, estão rapidamente alterando suas práticas e implantando novos processos e indicadores para conseguir acompanhar as rápidas mudanças que ocorrem no cenário educacional. Por que tratar da profissionalização da gestão em tempos de pandemia? O que esse fator pode contribuir com a implantação da educação híbrida? Experiências têm nos mostrado que instituições que não têm um bom índice de profissionalização encontram sérias dificuldades na implantação de qualquer novo projeto ou programa. A profissionalização da gestão contribui para que novas estratégias sejam executadas em um terreno fértil e seguro.
A profissionalização pode ser comparada com a estrutura de um prédio que precisa de reformas ou ampliação. Quando essa estrutura é inconsistente, há grandes possibilidades de todo o trabalho a ser realizado nessa reforma ou ampliação não obter êxito e, o que é pior, levar o prédio ou construção à ruína. Abordar o tema da gestão profissional das escolas causa, muitas vezes, certo desconforto, geralmente associado à falta de informação, de preparo ou preconceito dos gestores e educadores. Na gestão de qualquer organização, temos duas grandes dimensões. A primeira é instrumental e utilitarista, enquanto a segunda é política. Na instrumental, temos os métodos, técnicas e práticas. Na política, há os interesses e o poder, conflitantes, integrados e em confronto mutuamente.
Se considerarmos apenas o primeiro aspecto, iremos de encontro às atividades fins da escola, que são o desenvolvimento de pensamento crítico e da formação plena do cidadão. Uma gestão meramente técnica ou instrumental elimina a possibilidade de grandes reflexões, discussões e conflitos, que são extremamente importantes e fundamentais para o desenvolvimento do ser humano, seja o aluno, professor ou qualquer agente educacional. Se levarmos em conta apenas os aspectos conceituais e políticos, corremos o risco de não avançarmos, de realizarmos trabalhos incansáveis e com pouca efetividade e eficácia. Isso pode levar as pessoas à descrença, ao desânimo, à desmotivação, visto que há pouca realização no trabalho desenvolvido.
Assim, acreditamos que a gestão deve levar em conta as duas dimensões. Nenhuma delas deve suplantar a outra. É preciso se voltar aos elementos de aplicação, ao uso adequado de ferramentas e metodologias de gestão, de metodologias adequadas para a realização do planejamento, da organização das atividades, da implantação de mecanismos de controle e na realização de ações para que haja avanços e desenvolvimento da organização. Também devem-se levar em conta as questões subjetivas que não são traduzidas pelas metas explícitas nem por planos de ação estruturados. A gestão precisa contribuir para que a instituição seja um espaço político, onde possa haver o encontro e convergência de diferentes interesses em distintos graus de legitimidade de todos os agentes envolvidos.
A profissionalização da gestão escolar passa pela observação de todas essas questões, permitindo que as instituições implantem estratégias, processos e procedimentos que venham contribuir com a realização e execução de um planejamento eficaz, de uma organização pertinente com a nova realidade da escola, com a distribuição clara dos papéis e funções dos agentes educacionais e da criação de mecanismos de acompanhamento, com a implantação de indicadores de gestão que contribuem para a melhoria dos resultados educacionais. Tudo isso deve ser estudado, refletido, discutido e debatido amplamente com a comunidade escolar. Os gestores, ao utilizarem metodologias adequadas para melhorar o desempenho da escola, amenizam o trabalho árduo dos professores. Há muitos estudos que demonstram que uma escola com planejamento, organização adequada, meios de acompanhamento e possiblidades de mudanças rápidas de rotas e alternativas tem possibilidades de melhorar a motivação, o engajamento e o desempenho dos professores, e, consequentemente, a aprendizagem dos alunos.
A seguir, apresentamos alguns fatores que devem ser levados em conta por parte dos gestores no processo de profissionalização da gestão escolar, reforçando que isso precisa ocorrer de forma gradativa e consistente, sempre com um programa de formação dos gestores e das equipes técnicas das instituições educacionais e das mantenedoras, com uma equipe de suporte técnico e emocional. Uma instituição educacional profissionalizada, pública ou privada, apresenta, entre tantos aspectos, alguns que destacamos para exemplificar o que pode ser considerada a profissionalização da gestão escolar.
Por fim, lembramos que as instituições educacionais são diferentes da maioria das organizações. Elas trabalham com um olhar constante e crítico dos pais e das famílias, e são avaliadas pelo governo e pela sociedade. Assim, cada vez mais, sobra pouco espaço para uma gestão amadora, pautada simplesmente pela intuição. É preciso que se implante em nossas instituições o que nos Estados Unidos é chamado de accountability, uma espécie de prestação de contas. Para que, de fato, isso ocorra, é preciso que mecanismos de planejamento, organização, direção e controle forneçam informações fidedignas e resultados efetivos, vindos principalmente de uma gestão ágil, competente e profissional.