A campanha eleitoral desistiu de mudar o discurso do presidente Jair Bolsonaro. Alguns integrantes chegam a dizer que Bolsonaro é o maior adversário dele mesmo, por não se conter nos ataques que faz, especialmente ao processo eleitoral brasileiro e ao Judiciário. Aliados bem próximos afirmam que o presidente está fazendo de tudo para perder a eleição de outubro. Não há quem o convença a mudar essa postura. Está sempre brigando com alguém e isso não vai mudar nunca. Faz questão de ser assim e não mede as palavras que diz. Não vai abandonar nunca esse discurso de ódio, que não é uma invenção de seus adversários. Não. Essas declarações já cansaram o eleitor dele mesmo. As pesquisas do próprio governo indicam que, cada vez mais, o presidente desagrada até seus mais fiéis seguidores. A campanha tentou várias vezes mudar essa conduta. Mas não adianta nada, já que o presidente continua a fazer declarações estapafúrdias. Prefere o atrito. Não fala sobre um projeto para o país. Nada disso importa. O que importa mesmo é brigar sempre e estar metido em alguma situação negativa que só produz contrariedade a todos aqueles que ainda conseguem pensar no Brasil.
A campanha de Bolsonaro desistiu de alterar esse discurso quando ele reuniu os diplomatas estrangeiros para falar mal de seu próprio país, colocando em dúvida especialmente o processo eleitoral. Foi um vexame. Virou notícia internacional. Os próprios embaixadores que se reuniram para ouvir o presidente se mostraram perplexos. De lá par cá, os casos de discursos agressivos se multiplicaram. Hoje o presidente é um homem ainda preso a 2018, quando venceu a eleição com essa linguagem. Esquece que hoje o presidente é ele. Em 2018, a campanha foi feita só com ataque a tudo, encontrando grande receptividade entre os eleitores. A ordem na eleição passada era tirar o PT do cenário brasileiro, um partido que diz ser de esquerda, mas aceita como líder um sujeito como Luiz Inácio da Silva. Quer dizer: uma esquerda vagabunda. Essa ojeriza do eleitor com o PT ajudou Bolsonaro a vencer a eleição. Mas agora não dá mais seguir com esse discurso que coloca sempre o país numa espécie de beco sem saída.
Lembrando um fato recente, veja-se, por exemplo, a reação de Bolsonaro em relação à chamada “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, da Faculdade de Direito da USP. Só não xingou a mãe de muitas pessoas porque não ficaria bem. Logo de cara, Bolsonaro chamou de “cartinha” o documento lido em todo o país com manifestações em favor da democracia. Depois disse que a “cartinha” era uma micareta do PT, comparando-a a um manual contra as drogas assinada pelo Zé Pequeno, o personagem marginal, traficante e criminoso do filme “Cidade de Deus”. Mas não parou aí: o presidente chegou a dizer que a carta vale muito menos que um rolo de papel higiênico. E assinalou que a única carta do Brasil é a Constituição. Os integrantes da campanha desanimaram com esse discurso que só fala em urnas eletrônicas, como se esse fosse o maior problema do Brasil. É uma amargura. O presidente dá a entender que, se perder a eleição, não aceitará o resultado. Prefere não ouvir ninguém e segue com sua agenda negativa contra sua própria imagem de chefe do Executivo nacional. Para chegar a ser esse chefe, precisa ter muita lucidez e massa cinzenta na cabeça. A verdade é que o presidente está cada vez mais isolado. Até os aliados mais próximos já não escondem que cansaram. O único que não cansou foi Bolsonaro, que seguirá adiante com esse discurso fanático distante dos problemas reais de um país que parece irremediavelmente perdido, sem chance de se encontrar.