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Segunda, 21 de Outubro de 2024
Ola Mundo!


Revolução sexual não tem sentido se não acompanhada de uma construção de amor

Um amor real surge do sacrifício do abandono da paixão, ou mesmo do sexo, para a construção de um amor responsável

Vivemos tempos masturbatórios. O prazer sexual, assim como todo o prazer, se esgota se não se torna a ponte para o prazer de uma responsabilidade, de um sentido de cuidado. Até décadas atrás, a escolha de um parceiro ou parceira sexual sempre foi pautada por um afeto maduro, condicionada pelo risco ou opção de ter filhos. O sexo não parava no orgasmo. Era o início de uma família, quase necessariamente. A pílula anticoncepcional, a revolução sexual, a psicanálise freudiana e o livre acesso à pornografia em meios virtuais contribuíram para a ampla liberdade sexual sem responsabilidade moral. Nada contra a liberdade sexual ou contra o sexo frugal. É aparentemente uma maravilha você ficar com quem quiser, como quiser, quando quiser, sem maiores responsabilidades pela construção de uma relação. Mas há uma constatação: somos seres racionais, sexuais e sobretudo afetivos. Queremos relações.

Usamos nossa liberdade para nos prendermos a algo, a alguém, a sentidos de vida, sobretudo pessoas que se traduzem em sentidos de vidas. Pessoas que escolhemos amar e a quem escolhemos nos prender. Se antes desta nossa ampla liberdade sexual, uns sessenta anos atrás, a maioria de nós tínhamos quase a obrigação de construir uma relação socioafetiva com quem escolhíamos nos casar, hoje a maioria fica com quem quer e quando quer, e parte pra outra relação ao primeiro esboço de problema. O problema é que sempre haverá uma dificuldade de comunicação humana em qualquer relação afetiva. O amor surge muito mais de uma construção permanente com quem intuitivamente percebemos como nosso complemento, e não necessariamente de uma paixão por um ideal de pessoa que se esvai cotidianamente com o tempo, porque a paixão sempre se esvai com o tempo, e uma relação sempre se transforma em outra coisa. Um amor real surge do sacrifício do abandono da paixão, ou mesmo do sexo, para a construção de um amor responsável — pelo cuidado com os filhos ou com a pessoa que você escolheu amar.

A masturbação é um substituto físico do sexo a dois. O sexo é uma comichão do princípio do amor. Boa parte das pessoas trata seus afetos e as pessoas hoje como artifícios para consumo de seu prazer solitário, sem envolvimento. Viva o amor próprio, dizem. Amor próprio sem doação é masturbação vazia do ego. Amor próprio direcionado apenas ao prazer pessoal é masturbar o próprio prazer usando o corpo do outro. O significativo aumento progressivo da pornografia, da prostituição virtual, são sintomas desta busca de um prazer masturbatório, em que você não precisa lidar com o trabalho da relação com uma pessoa, com a construção difícil e extenuante de um amor, de uma entrega social, diária, espiritual a alguém. Claro que as pessoas ainda sempre procurarão incessantemente alguém que as complete em uma relação, um namoro, um casamento. Mas o acesso aos prazeres frugais diminuíram consideravelmente o prazer da dificuldade de construção permanente de um amor. Corpos perfeitos em redes sociais, relações exóticas, fetiches, imagens controladas em sites pornográficos dão uma sensação de extrema facilidade de acesso a obtenção de todos os prazeres ao alcance de um olhar, de um clique, que dispensa um diálogo sempre complicado com que você decide amar.

Sim, o amor é uma decisão. Não uma paixão ou ideal que se esgota. Sempre nos encantamos pelo ideal de alguém. Ideal que se esgota com o tempo. Uma grande atração sexual, ou mesmo pessoal, sempre se converte em uma amizade responsável e uma interação afetiva de cuidado. Sempre. A libido física ou mesmo a libido passional têm prazo de validade. A libido espiritual de querer entrar em comunhão com alguém e gerar uma vida jamais se esgota. Esta é bem mais difícil que um prazer masturbatório de uma noite de sexo ou uma imagem pornográfica controlada, ou um namoro rápido. A revolução sexual não tem sentido se não acompanhada de uma construção de amor. Não existe revolução amorosa porque o amor é uma tradição eterna. Não se revoluciona. A revolução sexual do prazer pelo prazer se transformou em revolução narcísica do domínio dos corpos. Você tem o domínio amplo do seu corpo, do seu prazer. Seu corpo é seu templo inviolável.

A revolução sexual quebra com tabus religiosos obrigatórios de uma união espiritual dos corpos pelo afeto em comum. Não por acaso, a consequência deste templo sagrado do corpo sem espiritualidade transforma a vida libertária sexual em uma das mais puritanas ao mesmo tempo. Se há pessoas que vendem, que mostram e consomem corpos, há também a sacralização do corpo, em que uma pessoa reage agressivamente a uma aproximação ou olhar de desejo como se fosse um atentado ao seu corpo, ao seu templo sagrado sem Deus. O feminismo mais histérico, que enxerga toda masculinidade como cultura do estupro, é filho direto da revolução sexual. Nada contra a liberdade sexual. Muitas e muitos foram de fato explorados sexualmente por uma cultura também reacionária por séculos de castração de desejo livre. Mas não há liberdade prazerosa sem um sentido de responsabilidade. O olhar de um filho, o olhar de cumplicidade com quem se ama, após uma vida de construção e de sacrifícios impostos por uma união visceral com alguém, permanecem em um prazer muito maior e duradouro e significativo do que um orgasmo. Prazer sem sentido de vida é prazer que morre no seu consumo.


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