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Segunda, 21 de Outubro de 2024
Ola Mundo!


Por que alguém deveria respeitar quem faz trabalhos malignos em nome de sua crença?

Representação da luz, as velas são artigos utilizados em diversas religiões

Uma religião é sempre um sistema de sentido que explica a vida. E uma explicação de vida pode ser adotada como salvação universal e pessoal, mas também pode ser contestada e, inclusive, desprezada em termos filosóficos, sociais, antropológicos, entre outros. Por que então o princípio de intolerância religiosa hoje em dia é tão rígido na aplicação de processos e julgamentos sobre opiniões acerca de críticas a religião de outras pessoas? Uma pessoa pode ter o direito de não gostar ou mesmo desprezar uma religião ou seita. Assim como pode criticar toda e qualquer teoria que explique um sentido de vida. Por que alguém deveria respeitar sumariamente quem crê em gnomos ou sacrifica animais, sacrifica pessoas, ou faz trabalhos malignos em nome de sua crença? Da mesma forma, por que alguém deve sumariamente não poder achar estranho quem creia em cinco camadas de inferno comandadas por um anjo mau que condena almas ao sofrimento eterno após a morte? Por que alguém deve respeitar, e não achar meio estranho, quem crê em um céu com setenta e duas virgens renovadas como prêmio a uma vida santa?

Mais: e se uma religião ou seita faz mal a alguém? Não se pode criticar esta religião em nome da tolerância religiosa? Há várias seitas e denominações religiosas que sabidamente fazem trabalhos ”espirituais” para prejudicar outras pessoas, explorar pessoas. Há na história de várias seitas denominações religiosas que prejudicam pessoas fisicamente, induzindo-as a comportamentos angustiantes e sacrifícios pessoais indeléveis. Alguém que aponte estes problemas, ainda que respeitando a liberdade de um crente de se submeter à própria exploração, estará cometendo um crime de intolerância religiosa? Serei enquadrado em intolerância religiosa se denunciar uma prática que eu achar abusiva ou maléfica feita em nome de uma religião? Todas as religiões são boas e devem ser intocáveis? Criticar uma religião ou seita não é necessariamente oprimir, perseguir ou proibir alguém de praticar sua crença. O que não se pode deixar fazer é oprimir ou proibir o exercício de uma crença, ou perseguir e censurar o livre exercício de uma crença. Mas a crítica deve ser livre. Inclusive, o próprio menosprezo ou desprezo por uma religião pode ser livre, porque o desprezo, desde que não fira a liberdade de culto de alguém, é da ordem da liberdade de expressão de uma pessoa. Se eu desprezo alguém, uma teoria, eu serei condenado ou processado? Da mesma forma com as religiões. Todas podem ser abraçadas, ignoradas ou desprezadas. Não se pode impedir ou massacrar alguém por sua religião, por discordância ou desprezo a ela. Simples assim.

Alguém poderia dizer que o desprezo a uma religião é o condimento para a opressão a uma religião. O mesmo que dizer que uma piada preconceituosa que zomba de alguém leva a um assassinato ou opressão de alguém. Esta é a ideia do politicamente correto. Assim sendo, se criminaliza toda a natureza humana. Toda forma de humor, crítica, desprezo, indiferença vira um crime tão grave quanto um assassinato. Perde-se a noção de proporção. Um crítico, um preconceituoso, se transformaria em um ”assassino em potencial”. Uma discordância pontual se confundiria com desprezo, que se confunde com um ”crime em potencial”. Assim, todos se transformam em “criminosos potenciais”. Esta é a consequência pérfida do politicamente correto. Dizer, por exemplo, que existe macumba, quimbanda, elementos de religiões que mexem com elementos do lado mau humano, é simplesmente identificar que existem elementos religiosos que não necessariamente visam o bem da comunidade. Dizer também que muitos se apropriaram do cristianismo para exercer opressão a povos e pessoas pode ser colocado como uma crítica aos desvios e interpretações que podem provocar uma determinada doutrina religiosa. Religião, no sentido etimológico do termo, significa a religação de pessoas em torno da comum união entre as pessoas. Mas a reunião de pessoas pode se dar em torno de um conceito mal interpretado ou mesmo um conceito torto e maléfico de vida mesmo. Proibir qualquer crítica ou mesmo investigação da gênese e da prática religiosa é proibir um livre debate e dar a um conceito ou dogma religioso a ampla liberdade para se fazer o que se bem entende, sem sofrer retaliação. Mais: impedir toda crítica a uma religião, crença ou seita pode dar vazão a criminalizar aquele que critica em todos os graus.

No Brasil e no mundo, o cristianismo é a religião mais atacada. Como a crença cristã é a mais hegemônica, histórica e geograficamente, é também a mais suscetível a debates, contestações e até a agressões. Na maioria das vezes, os cristãos não se abalam, porque compreendem o mundo como sendo um vale de injustiças a serem ultrapassadas para que se almeje uma justiça divina aqui mesmo na Terra através do perdão e do amor às pessoas. Um exemplo de religião que claramente busca a união das pessoas. Claro que há sempre pessoas que deturpam seu sentido e querem impor o cristianismo à base da força. E numa ação anticristã oprimem pessoas — e povos — usando erroneamente ou oportunisticamente e maleficamente o nome de Cristo. O humanismo do cristianismo é muitas vezes confundido com a deturpação de seus valores humanistas que, para além de seu princípio de transcendência espiritual, solidificaram os pilares da cultura humanitária ocidental. Contestar estes valores e confundi-los com as pessoas que os deturpam é algo cotidianamente usado por humoristas progressistas, por exemplo. Deve-se censurá-los? Não. Deve-se, como bom cristão, contestá-los, debatê-los.

Outras religiões que usam do nome de Cristo ou de outros deuses ou entidades divinas, como Buda, Maomé, Iansã, Exu, Ogum, etc., em geral pregam a comunhão das pessoas. Mas a forma desta comunhão muitas vezes pode originar sacrifícios pessoais que incitam contestações, não aos desvios ou más interpretações de religiões originais. A forma destes sacrifícios também é da ordem do debate necessário. Não é um preconceito julgar que a morte de um animal possa ser considerado uma barbárie; não é necessariamente um preconceito religioso achar que uma mulher seja proibida de estudar; não é necessariamente um preconceito religioso achar essencialmente ruim que alguém faça um trabalho espiritual para prejudicar outra. Há sim, segundo parâmetros basilares sociais, valores melhores que outros. O valor da tolerância é um deles: respeitar o outro nas suas diferenças é fundamental para a garantia da sociedade, de uma nação, do mundo. Mas respeitar sempre alguém que, inclusive, quer massacrar sua crença, não é respeito. É se render a quem o quer matar. Valores religiosos são fundamentais, desde que respeitem os pilares que fundaram a civilização. Preconceitos existem de todas as formas. Mas impedir que se faça uma discussão de conceitos religiosos sob a ideia de que toda religião deva ser respeitada totalmente e indiscriminadamente é massacrar e oprimir a própria liberdade humana de crítica e de consciência.


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